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Sempre disse:
Paixão devia ser lei, lei das mais severas; descumpriu, pena de morte.
Maria Luiza, minha paixão atual está absorta; penso em Maria Júlia, minha primeira paixão.
Mesmo estilo:
Início avassalador, impressões maravilhosas, andando nas nuvens, pedido de casamento, despedida de solteiro... casamento.
Lua de mel, mar, tardes preguiçosas, luares inesquecíveis, trepadas homéricas, felicidade... leveza.
Maria Júlia, ah, Maria Júlia!
Por ela aprendi a ficar doente para não ir trabalhar.
Aprendi a cozinhar, lavar e passar roupa, aprendi a descartar o lixo da casa, aprendi a trepar nos momentos mais impróprios do dia, aprendi a ser pau mandado... aprendi a organizar minha guerrilha pessoal para me libertar da repressão infernal.
Mas Maria Júlia era a mulher!
Melhor que ela, impossível!
Paixão de dar escamações na pele, tamanha a ansiedade.
Paixão de alma, paixão carnal.
Paixão paixão!
Penso nisso em silêncio, em segredo; quero deixar Maria Luiza, meu anjo, fora disso; minha paixão por ela não tem a fragilidade das minhas outras paixões; é eterna.
Mas Maria Júlia balança a sua loira cabeleira em meu rosto, sinto certo incômodo, mas não tem jeito.
Sou um apaixonado de carteirinha, a paixão me seduz.
O resto é apenas amor de dia útil, amor de segunda-feira.
Maria Luiza murmura meu nome e vem em minha direção.
Minha paixão escorre pelas frestas das portas e das janelas, escorre pelas paredes externas da casa.
Tomara que contamine as pessoas que andam pelas ruas.
Todas tão carentes de paixões avassaladoras.