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Sempre disse:
Paixão devia ser lei, lei das mais severas; descumpriu, pena de morte.
Maria Luiza, minha paixão atual está absorta; penso em Maria Júlia, minha primeira paixão.
Mesmo estilo:
Início avassalador, impressões maravilhosas, andando nas nuvens, pedido de casamento, despedida de solteiro... casamento.
Lua de mel, mar, tardes preguiçosas, luares inesquecíveis, trepadas homéricas, felicidade... leveza.
Maria Júlia, ah, Maria Júlia!
Por ela aprendi a ficar doente para não ir trabalhar.
Aprendi a cozinhar, lavar e passar roupa, aprendi a descartar o lixo da casa, aprendi a trepar nos momentos mais impróprios do dia, aprendi a ser pau mandado... aprendi a organizar minha guerrilha pessoal para me libertar da repressão infernal.
Mas Maria Júlia era a mulher!
Melhor que ela, impossível!
Paixão de dar escamações na pele, tamanha a ansiedade.
Paixão de alma, paixão carnal.
Paixão paixão!
Penso nisso em silêncio, em segredo; quero deixar Maria Luiza, meu anjo, fora disso; minha paixão por ela não tem a fragilidade das minhas outras paixões; é eterna.
Mas Maria Júlia balança a sua loira cabeleira em meu rosto, sinto certo incômodo, mas não tem jeito.
Sou um apaixonado de carteirinha, a paixão me seduz.
O resto é apenas amor de dia útil, amor de segunda-feira.
Maria Luiza murmura meu nome e vem em minha direção.
Minha paixão escorre pelas frestas das portas e das janelas, escorre pelas paredes externas da casa.
Tomara que contamine as pessoas que andam pelas ruas.
Todas tão carentes de paixões avassaladoras.
11
O mar de Jampa amanheceu mais verde hoje, o horizonte mais bem delineado.
As manhãs de quem ama são fantásticas.
O frescor das frutas, o doce das quitandas na mesa, o cheiro do café quente, a perspectiva do dia... o bom dia! de Maria Luiza.
O delicioso beijo de Maria Luiza... o carinho de Maria Luiza.
Ontem eu estava apreensivo, os momentos de angústia vão se dissipando; creio que posso ser um sujeito com vida normal, um cara desarmado, um homem que simplesmente ama a mulher que ama... um homem de paz.
Não quero mais caminhar pelas estradas que levam ao passado.
O passado deve continuar em paz, intocado, guardado a 7 chaves na memória dos que o construíram.
O passado só interessa ao passado.
O passado é peso morto.
É no que penso olhando o mar por trás do rosto iluminado de Maria Luiza, que morde uma maçã extravagantemente vermelha.
A vela branca passa pelo brilho matinal dos seus cabelos.
O momento perfeito!
Do nada, um torpor... um pequeno déjà vu.
Maria Júlia, Ane Gabriele e Ingrid Beatriz tomam conta da minha cabeça... dançam e dão gargalhadas.
Aperto com força a mão de Maria Luiza.
Uma gaivota longínqua encosta a ponta da asa no retilíneo encontro do mar com o horizonte.
Minha felicidade balança.
O amor é danado, mas a manhã de quem ama é fantástica!
Em silêncio tento esconjurar os meus fantasmas.
10
Estou perplexo, descobri algo perturbador.
Descrever, cantar a tristeza, a infelicidade do cotidiano é fácil.
Descrever, cantar a alegria, a felicidade é dificílimo.
Aqui estou, na ilha da fantasia, a minha casa, completamente alegre, completamente feliz e não tenho a menor ideia de como dizer isto.
Maria Luiza, o meu grande amor, dorme; o amor amanheceu na sua mais perfeita ordem.
Meio que incomodado, observo.
O míssil de todos os meus amanheceres não me atingiu.
Sinto falta da guerra, sou um guerreiro de relacionamentos.
Sinto falta das mágoas, das chateações, dos arranhões matinais.
Por enquanto não sei o que fazer com essa paz repentina.
Vou aguardar.
Maria Luiza logo acorda e, apenas com um olhar, acaba com todas as dúvidas da minha vida.
E eu posso começar o novo primeiro dia do meu amor com um beijo na boca.
Uma pequena sensação de leveza.
O meu sorriso verdadeiro.
9
Enfio a chave na fechadura, a porta se abre.
Maria Luiza entra.
O sol ilumina a sala, os cabelos de Maria Luiza.
Entro... com o pé direito, bato na madeira da mesa 3 vezes.
Um abraço em Maria Luiza.
Silêncio!
A casa, branda, calma...
A cabeça voa, penso nas outras: Maria Júlia, Ane Gabriele e Ingrid Beatriz.
Um pequeno incômodo... uma agoniazinha.
Maria Luiza sorri.
Esqueço tudo, a essência é outra.
O momento é outro.
Eu sou outro.
O amor não tem fronteiras... é todo o mundo.
É Maria Luiza!
8
A lua se foi... doce continua o doce mel nos doces lábios de Maria Luiza.
Dias maravilhosos, noites impensáveis.
Como o amor revigora os espíritos fracos, como o amor de Maria Luiza injetou ânimo e perspectiva em minha vida, reinventou-me... me fez nascer novamente.
Como estou feliz!
Além de uma cama quente, um abraço aconhegante, lábios desejosos... um coração apaixonado, o que mais um homem precisa?
Diante da lua enorme que se esparrama como uma estrada de luz mar adentro, agarradinho a Maria Luiza, eu penso nisso.
Ela sabe, entende, sorri... é cúmplice.
Almas gêmeas, caras-metades, amores extraordinários têm o dom de falar com os olhos, com os pelos, as mãos... através da natureza.
Aconchegados estamos, a brisa sopra leve, a noite avança e eu sinto uma grandeza incomensurável dentro do peito.
Amanhã começaremos nova vida, no embalo maravilhoso da rotina dos que se amam.
Incondicionalmente!
7
Meu Deus, o que há de melhor neste mundo do que um grande luar, o sussurro do mar, um bom vinho e uma maravilhosa mulher... Maria Luiza!
Aqui estamos em silêncio!
Respeito profundo à minha ansiedade, Maria Luiza é pura essência.
Um toque de mãos, um adolescente - eu - angustiado.
Três casamentos, três noites de núpcias, mais três noites de novas núpcias para tentar salvar os casamentos... e nada!
Ainda não aprendi a controlar esta sensação de que estou prestes a cometer um sacrilégio, uma heresia... um crime.
Maria Luiza sorri com minha insegurança.
Abre os braços, me abraça, me beija... me absorve.
Lá fora, o grande luar estende a sua maravilhosa luz sobre o grande mar sussurrante.
Na cama os corpos se enlaçam, a luz se apaga, o amor se consuma... eu me belisco para ver se não estou sonhando.
Ah, Maria Luisa, amor da minha vida!
6
Casar é um verbo maravilhoso.
Seus parentes próximos, então...
Juntar, conviver, viver, derreter, ferver, grudar, acasalar, abraçar, beijar, transar, alegrar, cantar, sorrir, gritar, suar, rolar, sublimar, respeitar, apaixonar, sussurrar, sonhar, deitar, voar, rolar, viajar, beber, fumar... amar.
Isso, ideia de hora de casamento.
A cabeça a 1000 aguardando Maria Luiza, o motivo de todos os bons verbos da língua portuguesa.
Uma nota de música; eu, na realidade.
Maria Luiza aparece na porta da igreja.
Suas asas de anjo não cabem no corredor, tem que erguê-las acima da cabeça dos sentados.
Estou a 5 cm do chão, leve como a pluma mais pluma.
Só a música, eu e as asas de Maria Luiza no ar.
O som do piano alcança o infinito.
E eu, mentalmente, digo sim.
Maria Luiza sorri, e o casamento está consumado.
A música perfeita:
"Eu sei que vou te amar..."
5
Hoje é o último dia dos tempos da minha vida sem rumo.
Estou nos últimos preparativos para mergulhar de cabeça em meu novo encantamento: Maria Luiza!
Amanhã, me caso!
E depois de amanhã amanhecerei com 3 sóis iluminando a minha janela.
583.000 pássaros cantando a minha canção preferida.
45 horizontes se estendendo pela linha dos 5 mares que estarão à minha frente.
E todas as cicatrizes dos amores antigos se dissiparão.
E estarei sublimado pela presença da mulher que entrou em minha vida.
Que estará dormindo em paz, enrolada em suas asas de anjo, vigiada por um minúsculo feixe de luz.
4
Amigos?
Só pra tirar sarro!
Como um amigo pode organizar sarcasticamente uma despedida de solteiro para um infeliz/feliz que está indo pro quarto casamento?
Pode?
Não pode, mas fizeram.
Uma gostosa saindo de dentro de uma caixa.
Um strip-tease animal.
Peitos esfregando na minha cara.
Bebida pra nunca mais se esquecer.
Tudo nos conformes, mas uma sacanagem: rasparam os meus pentelhos.
E a noite se foi.
Um sujeito extremamente feliz deixando de ser solteiro pela quarta vez.
Mas feliz que um poodle quando o dono chega em casa.
Com um só nome na cabeça: Maria Luiza.
E quem quer ser solteiro com essa mulher no mundo?
Numa boa, meu amigo, que ela é minha!