No início, pensei que ela só queria um pouco mais de carinho...
Um pouco mais de atenção todos os dias.
Mas depois era andar de mãos dadas na rua, abraçados em casa, agarrados como siameses na cama.
E de repente eu só podia falar com ela, comer com ela, respirar com ela.
Os dias se repetiram...
E repetiram...
E eu fui me fundindo a ela, me incorporando a ela.
Agora, não sonho mais sozinho; sonhamos em conjunto o sonho autorizado por ela.
Não vivo mais sozinho; vivo a vida determinada por ela.
Estou perdendo os movimentos, ficando cego, surdo e mudo... e não sei mais o meu nome.
E não sei mais se eu sou eu ou ela...
Ou se existo!
11
O mar de Jampa amanheceu mais verde hoje, o horizonte mais bem delineado.
As manhãs de quem ama são fantásticas.
O frescor das frutas, o doce das quitandas na mesa, o cheiro do café quente, a perspectiva do dia... o bom dia! de Maria Luiza.
O delicioso beijo de Maria Luiza... o carinho de Maria Luiza.
Ontem eu estava apreensivo, os momentos de angústia vão se dissipando; creio que posso ser um sujeito com vida normal, um cara desarmado, um homem que simplesmente ama a mulher que ama... um homem de paz.
Não quero mais caminhar pelas estradas que levam ao passado.
O passado deve continuar em paz, intocado, guardado a 7 chaves na memória dos que o construíram.
O passado só interessa ao passado.
O passado é peso morto.
É no que penso olhando o mar por trás do rosto iluminado de Maria Luiza, que morde uma maçã extravagantemente vermelha.
A vela branca passa pelo brilho matinal dos seus cabelos.
O momento perfeito!
Do nada, um torpor... um pequeno déjà vu.
Maria Júlia, Ane Gabriele e Ingrid Beatriz tomam conta da minha cabeça... dançam e dão gargalhadas.
Aperto com força a mão de Maria Luiza.
Uma gaivota longínqua encosta a ponta da asa no retilíneo encontro do mar com o horizonte.
Minha felicidade balança.
O amor é danado, mas a manhã de quem ama é fantástica!
Em silêncio tento esconjurar os meus fantasmas.
- Ah, Nardilla Paula, chega de conversa fiada!
- Hoje não tem batalha e pronto!
- Levante a bandeira branca... eu já levantei a minha!
- E vamos, Nardilla, sair de mãos dadas, sentar no banco da praça e ficar um minutinho, que seja, em paz!
- A contar estrelas e a enfeitar a lua com adjetivos.
- E quem sabe, com sorte, pode pintar um beijo na boca.
- Duas palavrinhas de carinho!
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(Fonte: Texto - Autoria de TõeRoberto)
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